terça-feira, 25 de agosto de 2015

" Amanheço com a sensação gostosa de ter feito muito por mim mesma. Dormir bem é algo tão raro em minha vida que, quando consigo, é como tivesse sido agraciada com uma dádiva. Sempre tive inveja dos que dormem bem e com facilidade. Nunca foi assim. Na maioria das vezes travo uma batalha com o sono ... É como se disputássemos uma final de campeonato que eu, idiotamente, teimo em tentar vencer. A verdade é que durmo de exaustão após essa briga besta. Por isso, valorizo tanto quando deixo-me envolver nos braços de Morfeu sem resistência, sem brigas e completamente entregue aos seus encantos. Ter a mente descansada de verdade ao acordar é o meu maior e mais gratificante prazer. Vida corrida faz isso com a gente... Não queremos perder nada. Bebemos os momentos de forma sôfrega como se preencher os espaços vazios fosse mais importante do que o sabor, a temperatura e o aroma de cada momento vivido. Eita maturidade que só chega com o tempo... Soubera eu dessas coisas e estaria muito mais inteira. Mas viver é aprender a perder coisas pelo caminho. E guardar outras. E também recolher coisas deixadas por outras pessoas em suas caminhadas para, desta forma, montar nosso próprio repertório . Estou aprendendo que não vale a pena trocar uma boa noite de sono por qualquer distração ou por pensar demais nas obrigações e compromissos . Pelo contrário. Dormir me prepara para viver melhor o que quer que seja. Estou prestes a bater na porta dos 60 anos... E nunca me senti tão bem com essa perspectiva... Vivi muitas vidas em uma só... Coisas muito boas mas também muito ruins. Perdas e ganhos... As ruins, infelizmente ou não, estão gravadas no meu diário de bordo. Não posso ignorá-las... Fazem parte do que sou. Forjaram-me na modelagem que hoje me apresenta, representa e revela. Mas, definitivamente , não me fazem sofrer ... Não mais. Chego até não acreditar que as vivi. Hoje não carrego ódios nem rancores. E a medida que o tempo passa vou apreendendo mais e mais a não me magoar também. Não por coisas que verdadeiramente não importam atė porque, estar com a razão, nem sempre é o que verdadeiramente vale a pena. Alguns dirão que me exponho.... Pode ser... Mas o que fazer da transparência que me joga fora do espelho? Então nåo me importo e sigo meu caminho levando apenas uma pequena valise, bagagem de mão. Deixei muitas malas perdidas, de propósito, em estações, aeroportos, rodoviárias... Todas sem identificação... Para não serem devolvidas mesmo. Na bagagem quero apenas o que não é preciso despachar... Tudo que possa seguir comigo e que me permita viajar pra qualquer lugar... A qualquer hora... Pra qualquer destino. Sonhos sempre... e uma bússola... Pra retormar o caminho. ( caso me perca por ai) .É só o que realmente preciso." ( crônica 02. Ciléa da Matta. Para Maíra Santafé que levou a outra... Merci, parceira!)

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